quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Legado de liderança




Durante a Dinastia Joseon da Coréia, o estudioso Eon-juk Lee ajudou a desenvolver os ideais confucianos de lealdade, devoção filial, benevolência e confiança, e pela contribuição ao neo-confucianismo coreano passou a ser considerado um dos cinco homens mais sábios do oriente. Seu trabalho foi homenageado com a criação de uma escola sobre a filosofia que perdura até hoje.
Cinco séculos mais tarde, os mesmos valores confucianistas ajudaram um de seus descendentes, Dong Kurn Lee, a sustentar sua família, abrir um negócio e tornar-se o primeiro presidente coreano do Rotary International. D.K., como prefere ser chamado, já está gerando amplo entusiasmo pela escolha do lema Realizemos os Sonhos, e altas expectativas por seu enfoque na diminuição da mortalidade infantil e no desenvolvimento do quadro social. Conhecido por sua habilidade de tomar decisões em grupo e pelos inúmeros contatos sociais e empresariais que possui, ele pretende inspirar rotarianos a fazer mais do que acreditam ser possível. Para obter sucesso, contará com a sabedoria de seus mentores, com as lições aprendidas do pai, o apoio da esposa e as tradições da cultura coreana.
"Os coreanos são tenazes", explicou D.K. "Eles desenvolveram um espírito ávido após a devastação do país causada pela Guerra da Coréia. Quando assumem uma causa, trabalham com perseverança e determinação.''
Lições aprendidas do pai
D.K. freqüentou parte da escola primária e passou diversos períodos de férias na casa de sua família no povoado de Yangdong, onde seu ilustre ancestral difundiu os ideais de Confúcio no século 15. O vilarejo, com casas tradicionais dispostas em uma pequena colina acessível por uma estrada de terra, fica a três horas de Seul. A inscrição exibida na entrada da escola elementar de Yangdong incita cada estudante a ser útil à sociedade, servindo-se de espírito íntegro e inovador.
"As pessoas do campo são diligentes e jamais desistem", afirmou D.K., sentado na cozinha de sua residência em Yangdong, uma réplica da casa original. Ele e sua esposa, Young Ja Chung, reconstruíram recentemente a estrutura, mantendo as vigas de pinho talhadas à mão e ao mesmo tempo adicionando conveniências modernas.
Seguindo a tradição coreana, os avós de D.K. também moraram nessa casa quando ele era jovem. Embora D.K. e Young passem a maior parte do tempo em Seul, na sede mundial do RI, em Evanston, ou viajando, eles pretendem se aposentar na residência que sobreviveu a diversas gerações da família.
Em Yangdong, D.K. aprendeu disciplina, humildade e generosidade com o pai,
Won Gap Lee, ex-governador de distrito de Busan. Aprendeu a demonstrar modéstia diante de elogios, a nunca vangloriar-se com relação a dinheiro e, acima de tudo, a honrar sua família, amigos e convidados. Quando era criança, as comidas mais apetitosas eram reservadas aos outros. Lembra-se de uma vez em que durante uma festa oferecida pelos pais sussurrou a um convidado desprevenido "Não coma tudo", temeroso de que nada sobraria para ele. Na época, não gostava da rigidez das regras, mas hoje, no entanto, é fiel às normas de hospitalidade ditadas pelos valores confucianos.
Seus colegas ficam impressionados com os ensinamentos de Confúcio com os quais foi criado. "Ele aprendeu que tudo que vale a pena ser feito, deve ser feito bem", elucidou o amigo Bon Moo Koo, diretor executivo e presidente do Grupo LG.
Ao deixar Yangdong, D.K. foi para Seul onde freqüentou a escola secundária e a Universidade Yonsei. O amigo Yi-taek Shim disse que D.K. era um estudante perspicaz e fazia amizades com facilidade. "Ele se dedicou a inúmeras atividades extracurriculares voltadas ao bem da comunidade", explicou Yi-taek, ex-diretor executivo da Korean Air.
Embora seu pai fosse dono de uma empresa têxtil bem sucedida, D.K. não foi mal acostumado. Após a universidade e o serviço militar, passou diversos anos em São Francisco estudando administração de empresas. Como a assistência financeira fornecida pelo pai havia sido modesta, trabalhou como lavador de pratos e mais tarde como ajudante de garçon. "Ele queria que eu tivesse esse tipo de experiência", esclareceu.
D.K. admirava o trabalho rotário de seu pai e de outros rotarianos e também o fato de que eram respeitados na comunidade. Em 1971, associou-se ao Rotary Club de Seoul Hangang e tornou-se governador de distrito em 1995-96. Ao longo dos anos, D.K. ocupou vários cargos na organização, inclusive o de diretor do RI e curador da Fundação Rotária.
Equilíbrio entre diversas funções
D.K. é atualmente presidente da Bubang Co. Ltd. e da Bubang Techron Co. Ltd., um grupo de empresas produdoras de equipamentos eletrônicos e utensílios domésticos, tendo transformado uma pequena manufatura na Coréia do Sul em uma corporação operante na Coréia e na China.
"Ele aperfeiçoou o que foi herdado de seu pai", disse o colega Woo Sik Kim. "É surpreendente, pois não é fácil se encarregar de tudo como ele fez – atividades rotárias, negócios e família."
Na sede da Bubang, em movimentada área de Seul ao sul do Rio Han, D.K. dispensa o elevador e sobe seis andares de escada até seu escritório, onde lembranças do Rotary – fotografias de convenções e assembléias internacionais, flâmulas e prêmios – decoram o ambiente. Seu filho mais velho, Dae Hee, trabalha no primeiro andar como diretor executivo da Lihom, a subsidiária da Bubang que produz aparelhos domésticos.
D.K. e Young têm mais três filhos – as filhas Hee Won e Hee Jung, e o filho Joong Hee – que residem respectivamente em Seul, Cingapura e Nova York. Três dos quatro são casados e têm filhos. A neta mais nova, Tae Kyung, nasceu no dia do aniversário de D.K. em outubro passado.
O orgulho dos filhos pelas realizações do pai é evidente. "A energia dele advém de sua paixão pelo Rotary", explicou Dae Hee. "Ele conta também com o importante apoio da minha mãe."
Young desempenha papel discreto, mas essencial no trabalho do marido. Sua principal função é mantê-lo organizado, preparado e saudável, o que significa por vezes passar roupa, assistir na preparação de discursos ou participar de eventos rotários após longas viagens de avião. Embora tenda a colocar-se em segundo plano enquanto D.K. se dedica a atividades do Rotary, Young é uma mulher independente e carismática, o que se revela nos mais variados momentos, seja dirigindo nas ruas congestionadas de Seul, conversando com entusiasmo sobre sua vida em Evanston ou interagindo com crianças em atividade do Rotary.
Young disse que, ao acompanhar o marido em visitas a projetos rotários, ampliou sua conscientização sobre o impacto causado pelos rotarianos nas diversas comunidades. Ela ficou especialmente impressionada na Índia ao observar médicos realizando cirurgias em uma clínica ambulante. "A Índia é um país grande com inúmeras pessoas carentes, semelhante ao meu país após a Guerra da Coréia. Acho que os rotarianos estão melhorando a situação local", declarou.
Amigos dentro e fora do Rotary
Embora o Rotary, os negócios e a família sejam o centro da vida de D.K., os amigos também recebem alta prioridade. Ele considera a interação social um hobby, especialmente agora que não tem mais tempo para jogar golfe. Entre seus amigos estão o presidente e o primeiro-ministro da Coréia, o secretário da ONU, e dirigentes de universidades e conglomerados corporativos. Estes líderes consideram o envolvimento de D.K. com o Rotary digno de admiração e têm orgulho de vê-lo assumir o comando de uma organização internacional.
Recentemente em Seul, depois de um vôo de 14 horas proveniente de Chicago, D.K. e Young seguiram diretamente ao hotel Grand Hilton para um jantar com Woo Sik, ex-primeiro-ministro adjunto da Coréia; Seong-soo Han, atual primeiro-ministro, D.S. Hur, presidente e diretor executivo da GS Caltex; Wu-Yeong Bang, presidente da Chosun Ilbo ; Jong-Yong Yun, diretor executivo da Samsung, e esposas. Os casais conversaram sobre a política dos Estados Unidos, os candidatos à presidência Hillary, Obama e McCain e os aspectos ligados ao voto da comunidade latino-americana. Questionaram se a o cancêr de pele contraído por McCain no passado deveria ser um fator nas eleições e ponderaram qual candidato poderia ser melhor para a Coréia. O primeiro-ministro Han acrescentou: "D.K. é um dos nossos melhores representantes. Muitos coreanos aguardam com entusiasmo os serviços que prestará em prol das causas do Rotary International".
Para atender à alta expectativa, D.K. sacrifica o sono, dormindo em geral menos de cinco horas por noite. Inicia o dia às 7 da manhã e apressa-se de um encontro a outro em Evanston ou durante viagens. De noite caminha em uma esteira ergométrica enquanto assiste CNN e às vezes trabalha até tarde nos negócios de sua empresa. "Ele é praticamente incansável", declarou Mike Pinson, assistente do presidente. "Lida sempre com três ou quatro coisas ao mesmo tempo, e age rapidamente. É necessário um exército para acompanhar o ritmo dele".
D.K. se esforça para estreitar o relacionamento com companheiros rotarianos e constantemente solicita a opinião daqueles ao seu redor. "Muitas vezes, as pessoas conversam somente com os amigos mais próximos, enquanto D.K. acredita que todas as regiões devem estar bem representadas se quisermos ser uma organização realmente internacional", disse o curador da Fundação Rotária, John Germ.
Essa abordagem inclusiva, aliada à sua hospitalidade, agrada os que trabalham com D.K. "Os governadores eleitos com os quais colabora gostam muito dele", afirmou Mike. "D.K. apresenta metas ambiciosas aos governadores, mas nada que ele mesmo não tenha alcançado."
Tais metas incluem planos arrojados de aumentar o quadro social em 10%, para um total de 1,3 milhão. Ele pretende visitar o maior número possível de clubes. "Acredito que os rotarianos querem ver seu líder", declarou D.K. "Há países com longo histórico no Rotary que nunca viram seu presidente".
D.K. dará atenção especial aos esforços de equiparação dos US$100 milhões oferecidos pela Fundação Bill e Melinda Gates e à diminuição do número de países pólio-endêmicos. Continuará a ênfase do ex-presidente do RI Wilf Wilkinson em recursos hídricos, saúde, nutrição e alfabetização, e adicionará como novo destaque a redução da mortalidade infantil. A decisão de incluir mais um enfoque foi reforçada em uma visita à África, onde viu casos de mulheres desnutridas demais para amamentar seus bebês. D.K. afirma que muito do trabalho realizado pelo Rotary, como fornecimento de água potável, aprimoramento da assistência médica e combate à fome, está diretamente ligado à redução da mortalidade infantil.
O ex-presidente do RI Luis Vicente Giay declarou que a preocupação de D.K. com o bem-estar infantil é ratificada por todos. "Quando o assunto é criança, as pessoas reagem imediatamente porque as crianças são o futuro. Rotarianos, ONGs e representantes governamentais estão altamente interessados em reduzir a mortalidade infantil."
"Este não é um problema que possamos resolver em um ano", esclareceu D.K. "Há um provérbio coreano que diz: ‛Começar é a metade do trabalho’. Estou motivado a começar o trabalho." Ele continuará a se dedicar à redução da mortalidade infantil após o término de seu mandato. D.K. conta com a ajuda de diversos amigos, especialmente de seu mentor no Rotary, In Sang Song. Os dois trabalharam juntos em 1994, quando D.K. era governador eleito de distrito e In Sang diretor do RI. "D.K. foi o governador eleito mais entusiasmado que já vi. Sua personalidade extrovertida e o desejo de aprender o máximo possível eram marcantes", relembra In Sang.
D.K. e In Sang compartilham o desejo de retribuir à comunidade mundial a assistência recebida após a Guerra da Coréia (1950 – 1953). "A Coréia era muito pobre. Diversos governos e organizações internacionais ajudaram a reconstruir o país", declarou D.K. "Hoje nossa economia é vigorosa e os coreanos querem devolver a generosidade. É por isso que o Rotary na Coréia está prosperando do mesmo modo que a economia nacional."
Quando D.K. tornou-se rotariano, seu pai recomendou que jamais faltasse a uma reunião de clube e que não esperasse glória pessoal por seu trabalho no Rotary. Won Gap Lee lhe disse também que a competição pelos cargos de líderes no Rotary era acirrada e o aconselhou, receoso de que o filho pudesse decepcionar-se, a deixar tais funções para outros. Quando líderes de clube e distrito sugeriram que se tornasse governador de distrito resistiu o máximo possível, lembrando-se do conselho recebido. Ao tornar-se governador em 1995, seu pai já havia falecido. "Ele teria me pedido para ser o melhor governador do mundo", disse D.K.
D.K. teve um mandato extraordinário como governador do Distrito 3650. Atendendo ao apelo para desenvolvimento do quadro social lançado pelo então presidente do RI Herb Brown e com o apoio de In Sang, fundou 32 clubes e recrutou cerca de 1.800 sócios em seu distrito. Pelo fenomenal esforço foi laureado com o prêmio Desafio de Calgary em 1996. Agora, ao assumir um cargo que seu pai jamais imaginou pudesse vir a ocupar, reflete sobre qual seria a reação daquele que, embora estrito, havia sido um bom educador.
"Se meu pai estivesse vivo, ele seria meu mentor. Sei que ficaria orgulhoso."

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