terça-feira, 16 de setembro de 2008

Conexão Ruanda


De um laboratório de computadores no coração da África, o bispo anglicano John Rucyahana coordena o conhecido grupo do Facebook chamado Bridge 2 Rwanda (ou, em tradução livre, ponte para Ruanda).
Hoje, porém, ele está acessando o grupo de um computador nos Estados Unidos, aonde viajou em busca de recursos para tentar salvar uma geração inteira de crianças órfãs em decorrência do genocídio de 1994 em Ruanda.
O Bridge 2 Rwanda não é somente um grupo on-line, mas também uma instituição beneficente com sede no estado norte-americano do Arkansas que, em parceria com o bispo Rucyahana, busca apoio e recursos para a escola-modelo Sonrise, localizada no país africano. Alguns de seus muitos colaboradores são os rotarianos dos clubes de Denver Southeast e Westminster 7:10, dos EUA, que ajudaram a equipar o laboratório de computadores e treinar professores em resposta a veemente apelo do presidente de Ruanda, Paul Kagame, e do próprio Rucyahana.
Um exemplo a ser seguido
Em 2001, Rucyahana fundou uma escola de ensino fundamental para os órfãos da região buscando tornar-se um exemplo para o resto do país. Logo nos dois primeiros anos de sua existência, a instituição tornou-se uma das cinco melhores do país, chegando ao topo em 2005. Como a primeira turma havia concluído o ciclo fundamental, fundou-se então uma escola de ensino médio para acolhê-los.
A escola é freqüentada tanto pelos filhos de famílias afluentes de Kigali e outras cidades, quanto pelos órfãos do genocídio e da Aids. Sonrise é um dos exemplos, senão o melhor, da evolução social e industrial que vem acontecendo em Ruanda.
"Quando os primeiros alunos chegaram aqui", lembra Joy Ruberwa, diretora da escola, "eles não sabiam sequer como se lavar ou vestir. É difícil acreditar, mas alguns meses depois eles eram outras crianças".
A escola possui atualmente cerca de 600 alunos matriculados no ensino fundamental e 350 no ensino médio, três dormitórios, biblioteca, duas cafeterias, belos jardins e uma horta comunitária. Um dos recursos mais importantes, contudo, é o laboratório de informática, com 180 computadores fornecidos pela rede de restaurantes norte-americana Chipotle Mexican Grill. O equipamento foi doado a pedido dos sócios do Rotary Club de Denver Southeast e reformado pelo Rotary Club de Westminster 7:10, ambos nos EUA. Graças ao laboratório, a escola de Rucyahana obteve visibilidade nacional.
Criando futuros empregadores
O aprendizado de informática será fundamental para essas crianças. Conforme explicou Rucyahana, "não estamos formando empregados, mas empregadores". Os resultados já são visíveis. No ano passado, a empresa Google selecionou Ruanda e Quênia como os primeiros países da África Subsaariana a testar seu pacote de aplicativos (Gmail, Google Earth, Picasa, etc.). Por toda parte em Ruanda, já começam a surgir empresas que oferecem serviços como envio de mensagens de texto ou que montam computadores com peças fabricadas no próprio país.
A ênfase no estudo de ciências e de computação não é importante apenas sob o aspecto econômico, mas, sobretudo, como forma de mudar a mentalidade distorcida e preconceituosa vigente anos atrás.
"A escola é onde alunos, pais, professores e comunidades interagem", explicou o secretário de educação John Rutayisire. "Quando a escola falha ao promover esta interação, a ideologia do genocídio floresce nas mentes das crianças. Em nossa escola, seja nas salas de aula ou nos dormitórios, tratamos os alunos como indivíduos, não como representantes de uma região ou tribo".
O professor de Estudos Sociais John Nzayisenga avalia: "Muitas de nossas crianças ainda se lembram da história recente de nosso país. Nós buscamos ensinar que fomos divididos no passado, mas que devemos ser unidos no futuro". Ele pausa por um momento. "O ensino de informática ajuda, porque nos dá um ponto de partida comum. É o oposto de onde estávamos e de quem éramos."
Artigo publicado originalmente na The Rotarian .

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